Tens tudo dentro de ti para parir. Imagina que o hospital que escolheste, a obstetra, o companheiro, a doula… ninguém vai poder estar lá para ti. Se tudo falhar, o que precisas para parir?
Esta era uma pergunta obrigatória, que colocava às mulheres que acompanhava. Provocadora, tinha o objetivo de destruir todas as esperanças colocadas na segurança que os elementos externos traziam à grávida. Falávamos sobre a ilusão do controlo e da importância de confiar na Vida.
Este era um cenário tão negativo quanto improvável. Até que chegou 2020 e, com a pandemia, esse cenário surreal passou a ser a realidade nos hospitais portugueses, contrariando até as recomendações da OMS! Grávidas internadas sem qualquer contacto com familiares. Grávidas a parir, sem acompanhante. O parto é um momento de vulnerabilidade onde, lamentavelmente, ainda acontecem muitos abusos. O pai, guardião do parto, perde a sua função de companheiro, e está afastado de um dos momentos mais marcantes da parentalidade: o nascimento do seu bebé. Conseguem imaginar o impacto de tudo isto nas famílias?
Como resultado, vejo grávidas a vivenciarem a gravidez com medo, partos cada vez mais instrumentalizados, bebés afastados das mães. A troco de quê? É desumano!
Junto-me à Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e no Parto (APDMGP) nesta luta que deve ser de todos nós. Por um acompanhamento humanizado no parto, pela presença de acompanhante, pela saúde física e emocional das mães, pais e bebés. Pelo levantamento imediato desta proibição de acompanhante, lesiva e desproporcionada.
#parirsozinhanao